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Campos de colaboração nas práticas artísticas contemporâneas | Conferência internacional

Culturgest, Lisboa

19-20 de Novembro de 2019

Nesta conferência, um grupo transgeracional e transfronteiriço de artistas e investigadores é convidado a refletir sobre a colaboração nas práticas artísticas e como esta informa processos de criação, problematizando questões estéticas e gerando novos modelos de produção, circulação e organização. Deste modo, Campos de Colaboração procura mapear questões suscitadas pelo trabalho em coletivo e em plataformas de cooperação artística, colocando em evidência o carácter simultaneamente híbrido e singular de alguns destes projectos.

 

A colaboração nas artes é um fenómeno transversal a diversas épocas e contextos, surgindo com particular impacto em momentos de incerteza social, económica e política (KESTER, 2011). Estas práticas vêm, muitas vezes, contrariar o status quo e impulsionar a emergência de novas subjetividades, reconfigurando convenções de autoria e desafiando as estruturas dominantes do poder institucional. Revela-se igualmente oportuno refletir sobre o papel dessas redes no contexto socioeconómico atual, perante quadros de crescente flexibilização e precarização do trabalho.

 

Em resposta à complexidade do tema e às múltiplas abordagens possíveis, propõe-se a partilha de experiências e reflexões sobre o trabalho colaborativo, ao longo de dois dias. O evento conta assim com três apresentações de oradores convidados, uma mesa redonda e seis painéis temáticos resultantes de uma chamada de trabalhos, aberta a artigos e intervenções performativas. 

 

Catherine Quéloz e Liliane Schneiter, fundadoras do programa pioneiro de investigação em artes CCC - Research Based Master Program (HEAD, Genebra) abrirão a conferência com a comunicação Dispara o teu imaginário!. A dupla irá debater de que forma a ideia de comum “emerge no processo de colaboração, oferecendo uma perspectiva sobre como viver uma ‘vida boa’, com uma consciência apurada da cooperação entre eco-feminismo, decrescimento, convivialidade, simplicidade voluntária, colaboração multi-espécies, entre outros”. Segue-se o painel Construindo o comum, em que serão abordadas questões prementes como o desaparecimento do espaço público, a gentrificação e a austeridade no financiamento da cultura, reunindo três estudos de caso de coletivos ativistas e centros comunitários. O painel Abordagens feministas nos processos colaborativos, que encerra a sessão da manhã, discutirá a atividade de projetos artísticos e coletivos políticos formados exclusiva ou maioritariamente por mulheres, a fim de convocar as problemáticas de género neste âmbito. O terceiro painel abordará o modo como o exercício de criação coletiva pode desconstruir, invalidar ou refazer os conceitos de autor, autoria e autoral. O primeiro dia terminará com a intervenção do coletivo artístico SOOPA, uma plataforma de criação internacional fundada em 1999, e organizada em torno de um grupo de artistas e pensadores. Filipe Silva e Jonathan Saldanha, em representação do coletivo, irão refletir sobre a história dos vinte anos de colaboração do grupo, partindo de um arquivo de vídeos, fotografias, sons e textos, que revelará as “relações cosmológicas” de concertos e performances que têm vindo a desenvolver a partir da cidade do Porto, e em fluxo por diversos outros espaços.

 

O segundo dia da conferência terá início com uma mesa redonda dedicada ao tema da colaboração no contexto português, na qual irão participar António Olaio, José Maia, Rita Fabiana e Sandra Vieira Jürgens, com moderação de Samuel Silva. Considerando a forte expressão dos processos de coletivização das práticas artísticas no panorama nacional, esta mesa procurará refletir, num primeiro momento, sobre o contributo deixado pelos grupos/projetos colaborativos surgidos a partir dos anos 60 no desenvolvimento, em contexto de ditadura, de “modelos coletivos de produção, de autogestão e difusão de arte singulares” (JÜRGENS, 2016, p. 235), num gesto eminentemente político e de resistência. O painel discutirá ainda os diferentes formatos de colaboração surgidos já em contexto de democracia até ao presente, através dos quais se articulam aspectos como a informalidade, o cruzamento disciplinar, a construção de comunidade artística e o reforço de uma ideia de independência. Este tema será ainda aprofundado na quarta mesa, que lança um olhar sobre as potencialidades que projetos das décadas de 60 e 70 oferecem para pensar a colaboração nos seus contextos históricos e na atualidade, em áreas como o ensino artístico e a criação plástica e coreográfica. O painel seguinte, Intervindo no espaço público, irá debruçar-se sobre os modos como as práticas artísticas colaborativas transformam dinâmicas sociais, sustentam ou questionam modelos políticos e alteram a experiência estética da cidade. O último painel temático da conferência discutirá os desafios e estratégias de resolução de conflitos que emergem no seio de coletivos e estruturas de produção cultural, no âmbito das artes performativas e de processos de criação em parceria com a comunidade. Encerraremos a conferência com a participação de Francisca Caporali, fundadora e coordenadora artística do JA.CA, espaço de criação coletivo de Belo Horizonte (Brasil), que fará uma leitura dos dez anos do projeto, “partindo da construção da sua sede própria em terreno não próprio”. Nesta intervenção, Caporali irá refletir acerca da relação do projeto com as comunidades envolventes, as políticas públicas e a construção de redes com outros espaços autónomos, bem como do seu programa de residências artísticas.

 

A Conferência Internacional Campos de Colaboração nas Práticas Artísticas Contemporâneas é, acima de tudo, uma possibilidade de encontro, desenhada por muitas mãos, e que resulta da parceria entre diferentes organizações e centros de investigação.

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